A fábula do garoto que quanto mais falava sumia sem deixar vestígios: cidade, cotidiano e poder, escrita por Luiz Antonio dos S. Baptista (2001), relata o drama educacional vivido por um garoto da periferia do Rio de Janeiro. A fábula coloca o garoto como o centro de estigmas educacionais, alegando a dificuldade de aprendizado a uma série de fatores físicos, culturais, sociais e econômicos.
O garoto que tinha dificuldades de concentração para leitura e não conseguia compreender a matemática passada em sala de aula. Em uma reunião com os educadores, o menino logo foi desenganado pela mãe, que dizia: – Não tem jeito, é de sangue. Os educadores, indiretamente, concordavam com a mãe, pois atribuíam a dificuldade de aprendizado a um déficit de inteligência, resultante da fome e da miséria. Assim, o garoto estará fadado ao “fracasso”, pois já foi colocado um rótulo, sendo esse, algumas vezes embasado pela própria ciência. O rótulo do fracasso escolar, não impediu que o garoto vivenciasse experiências de aprendizado, pois, quase que como um instinto de sobrevivência, o garoto conseguia facilmente vender laranjas no semáforo, negociando e fazendo os mesmos cálculos que em sala de aula tinha dificuldade.
Assim como a fábula do garoto, muitas histórias reais estão sendo escritas nesse momentos. Nelas, crianças estigmatizadas são colocadas em um lugar de dependência e, não tendo suas habilidades reconhecidas no âmbito educacional, fogem para expressar sua capacidade no mundo do crime, ou vive sempre acreditando no que lhe foi dito, vivendo uma vida à margem da sociedade. Segundo Patto (2015), colocar o sujeito como uma consequência do contexto sociocultural em que ele se insere, atribuindo a ele de forma crítica, a responsabilidade em relação a um fenômeno psicossocial de natureza complexa (fracasso escolar), é subverter a ordem das coisas. Pois, recorre-se a subterfúgios ideológicos e reducionistas para legitimar as desigualdades no âmbito social.
Por fim, entende-se que colocar o sujeito como centro da sua “incapacidade” é subestimar as habilidades humanas para o aprendizado. Habilidades essas que serão exploradas, se não em sala de aula, na vida, em seu cotidiano. Pois, os desafios impostos pela sobrevivência, exigem a resolução de problemas mais complexos que aqueles vivenciados em sala de aula.
Referências
- BAPTISTA, LA dos S. A fábula do garoto que quanto mais falava sumia sem deixar vestígios: cidade, cotidiano e poder. Psicologia e educação: novos caminhos para a formação. Rio de Janeiro: Ciência moderna, v. 1, p. 195-212, 2001.
- Patto, M. H. S. (2015). A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia (4ª ed). São Paulo: Casa do Psicólogo
boa noite,
Amei a história e o entendimento dos seguintes pensadores a respeito da mesma.
obrigada.